Ei rapaz cadê meu filho... Você o conhece bem, é aquele que me fez
chorar e rir, aquela noite de abril com seu primeiro choro, já fazem mais de
vinte anos.
Aquele que comia salsichas no calçadão da praia Malvín sentado no
chão como se nada ao seu redor existisse. Esse que brincava de milanesa na
areia.
Aquele que levava a caçar, que caminhava a meu lado carregando uma
pá por quilômetros na procura de mulitas, só com cinco anos.
Aquele que em umas férias tendo ido a pescar e na beira de um rio
caminhando junto a mim com sua varinha de pesca no ombro embaixo de uma ponte e
um velho pescador comprimento ele falando “ adiós pescador” e seu peito
encheu-se de orgulho.
Aquele que subia num cavalo com cinco anos, andava uns cem metros e
voltava, descia e me falava que vinha a me ver, subia, andava, voltava, varias
vezes, cadê ele.
Aquele que dormia aos meus pés numa caçamba de caminhoneta às três
horas da madrugada com um frio de dez graus negativos todo acorçoado enquanto
eu caçava.
Aquele que quando de regresso de uma caçaria entramos numa quitanda
e a dona perguntou para ele que tinha caçado e ele cheio de orgulho respondeu,
lebres, perdizes, cordeiros, rssss
Aquele que jogava na água, na praia, no estilo bolinha, bandeirinha,
uma e outra vez junto com seu irmãozinho.
Aquele que ensinei a dirigir com sete anos um ciclomotor em numa
quadra de futebol em Punta Carretas na beira do mar.
Aquele lobinho dorminhoco que não acordava ao chamado da Chapeuzinho
vermelho, em aquela festa de fim de ano letivo.
Aquele que inicie na aventura Jipera, na mecânica, na vida, que me
fazia sofrer, com o coração na boca, morrer de medo, em suas andanças
aventureiras dentro de um Jeep.
Esse meu filho procuro, vc não viu ele, esta desaparecido faz muitos
anos, esse outro cara que conheço não é meu filho, ele é um estranho para mim,
um desconhecido que não quero ver nem ter perto de mim... Ral-Diablo
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